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Eu sou um pouco de solidão, um pouco de negligência, um punhado de reclamações.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O toque final



     Dia de tempo abafado, contas atrasadas e o telefone sem tocar. Ela mudava de canal impacientemente enquanto sentia o controle remoto da televisão deslizar de sua mão suada. A maioria do conteúdo: silicone, amor, beleza. O que podia ser pior? Ou melhor, o que poderia deixar a situação menos insuportável? Decidiu desligar a tv. Laura inundou-se em pensamentos supérfluos em seu sofá – desde do próximo capítulo de sua novela até a nova massa química do comercial de fastfood. 


    Limpar a casa? Não, não. Isso soa escravidão, a poeira o vento vai levar. Ela estava errada. O tempo estava abafado, sem vento, sem ninguém em casa. Seu corpo estirado derretia-se no couro do sofá, e é nesses momentos em que o subconsciente trabalha. Já não se permitia pensar em suas responsabilidades. O calor abria-lhe os poros, estava aberta para novas sensações enquanto pensava sobre si mesma, o único assunto que a não espantava. 


    O mais sensato a se fazer quando está sozinho, é fazer o que todos fazem quando estão sozinhos. “Mas e se isso for errado? Alguém pode chegar a casa e me encontrar desprevenida.” Bom ninguém a flagrou, pelo menos, não a pegaram enquanto se despia com a autodesculpa que o principal motivo era o calor. O extinto é delicado, e também grosseiro. Estava se desembrulhando como um doce possivelmente esfarelado, esse ato detinha toda a delicadeza que o momento desejava e toda a fúria que a pressa leva em si.


   Muitos filósofos questionaram e exaltaram a beleza do encontro durante séculos. Os músicos românticos exaltavam que o encontro acontecia a partir do momento em que se acha o partido ideal. Nesse exato segundo centenas de pessoas em diferentes continentes estão proclamando a meta da busca do encontro em suas vidas. 


   Então, como um relâmpago que perfura o céu em um tempo chuvoso, Laura encontrava-se dentro de si mesma. Sem aviso o tempo mudou bruscamente. Aos poucos o tempo tornou-se úmido. Muitos trovões. Fortes ventanias que se tornavam mais audíveis fora de seu lábio. Tão úmido que a chuva não demorou a alagar-lhe toda sua moradia. A não poetiza estava mais dentro de si mesma que qualquer experiência poética em um final do dia podia lhe proporcionar. 

sábado, 7 de maio de 2011

A entrega da virgem

João afagou seu cabelo e puxou levemente a raiz dos fios escuros da virgem com a delicadeza que o momento pedia. Ele mordiscava seu lábio como se quisesse dissolver migalhas de um pão, e a língua da moça enterrou-se sem jeito dentro de sua boca, sendo possível sentir o cheiro de vinho saindo de seus lábios como frasco de perfume aberto. Maria suspirava juras de amor enquanto seu namorado tirava suas vestimentas. Começou a tatear a geografia irregular do corpo de sua amante com os olhos revirados de desejo, em um rápido relance puxou a blusa da moça e foi possível analisar melhor o sutiã com detalhes em renda, que sentira minutos atrás ao deslizar a mão em seu corpo, com um pouco de dificuldade e impaciência conseguiu retira-lo. Eram duas peras maduras que se durassem mais uma estação passariam da validade para serem colhidas e provadas. O amante derreteu-se dentro da jovem, o seu suor juntou-se ao perfume barato da moça, as meias estavam jogadas no chão. A penumbra da janela refletia dois corpos enlaçados um dentro do outro. A jovem que na noite inteira balbuciou que se entregou, dormia com seu rosto virado para João. Ele que não declamou nenhum amor eterno deslizou a ponta de seus dedos em seus lábios, sussurrou um adeus e foi embora do quarto da virgem mental.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A beleza mórbida de Angelina

A moça com os lábios carnudos irreconhecíveis era a desgraça da mãe. Quando pequena gostaria de tornar-se uma mulher independente como quem acolhera em 9 meses na barriga; do pai pouco sabia, mas era vivo. A beleza de Angelina evoluía ao passar dos anos, de jovem com olhar ingênuo transformou-se em atraentes olhos enigmáticos – ninguém sabia o que passava em seu coração, talvez nem a própria menina entendesse o motivo que lhe causava dor.
– Por que está chorando, minha filha ?
– Estou com dor de cabeça e vertigem.
– Isso nunca lhe fez chorar, conte para sua mãe a verdade.
– Estou falando a verdade. Acho que vou me deitar.
  E deitava-se, cobria-se, respirava incerteza dos reais motivos da vida apertar-lhe o coração com força de um leão feroz. A própria nunca mentiu para si mesma que o fato de ter a beleza em suas mãos e pelo resto de seu corpo sequer a fazia melhor para alguém – nem para si mesma.
Ah, quem a olhasse... Capaz de tornar-se pedra ao admirar-lhe por uma fração de minutos. Seu corpo todo eram curvas desiquilibradas, quadris, busto, lábio; curvas que te faziam perder o controle dos cincos sentidos.  A jovem que era rebelde com a sua falta de onisciência da vida começou a perceber que podia ser a pior ferramenta que poderia usar. 
 Colecionava facas, não passava despercebida por nenhuma nova quando encontrava em uma loja ou até mesmo em cozinha de família. Também usava as próprias facas. Cortava-se inteira, e mais do que curvas seu corpo era repleto por cicatrizes que mesma fizera pela arte de existir. Sabia lançar facas em quem a pedisse, os grandes olhos verdes em quem a ameaçasse.
– Esqueça que você tem mãe – tremia como um terremoto capaz de destruir o mundo. Seu mundo estava completamente revirado naquele momento.
Pobre, Anjo. Rompeu-se o laço com quem abrigara no seu coração por muitos anos. Dizem que foi encontrada na cama com o namorado da mãe. Outros dizem que a mãe que vivia bêbeda desde que a moça fora pequena. Nunca mais falou com a mãe depois do ocorrido. Nem mesmo antes de sua morte. Mais do que beleza, tinha cicatrizes profundas que carregava em sua vida. E que não apareciam em um simples flash de foto.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Guri a procura d'um amor

     O guri estava sentado no banco de madeira, ao seu lado sua mochila com alguns cadernos, do outro a vontade de encontrar alguém. Aquele lugar era estratégico, todas as raparigas com seus corpos florescendo da adolescência para a vida adulta desfilavam por lá; baixas, altas, louras, morenas, de fala mansa, riso histérico. Às vezes seu olhar encontrava o de seus antigos amores, uns que foram esquecidos como bijuteria em gaveta, outros que ainda ardiam feito queimadura – o que devia ser mais difícil? Esperar pelo desconhecido ou por alguma memória ? Vivia por ali sentado, veze em quando conversando para espantar a solidão, outras vezes ouvindo músicas que se encaixavam perfeitamente como trilha sonora.
     Sorrir nunca fora tão difícil para o guri, já muito desencantado com as falsas promessas e desencontros. A alegria não era difícil de se ter em seu dia-a-dia, muito das pessoas o queriam bem de saúde, era rodeado por amigos, escutava-se piadas e risos ao passar ao seu lado. No entanto, com o coração ralado o que poderia fazer ? Eram momentos de alegria em companhia e inumeráveis de tristeza sem outro corpo para acolher seus sentimentos pisoteados, e outros ainda guardados – talvez nunca o achem, é muito bem guardado. Apesar das contradições da rotina ainda sorria, era perfumado, bem cuidado, moço bonito. Era preciso além de olhar, senti-lo. Sentir que nada valia a aparência boa, se seu coração estava apodrecido de procuras desgastantes. Quase ninguém sabia disso, ele sabia.
     Quando o perguntavam como estava não sabia o que deveria responder. Uma simples pergunta o fazia relembrar o que se passava por dentro.
– Tudo bem, guri?
– (Ontem a noite só me restava estudar para os exames escolares, mas minha própria mente me perturbava. A vida não é um cálculo matemático, nem um simples substantivo, muito menos o amor. Eu que pensei por ingenuidade que amar era brisa da manhã que acaricia a face, percebi que está mais próxima de navalha adentrando nos músculos da pele. Pensei a noite toda sobre o porquê me sinto incompleto. É falta. Falta alguma coisa. Mais o quê? Hei de não encontrar. Sinto tristeza, aquela que nunca entendi ao escutar meus amigos pronunciarem.) Estou bem e você?
– Claro! Você está sempre bem, com sorriso no rosto. Como foi na prova?
– (No momento não sou capaz de provar da alegria sincera, só de beijos que roubo para suprir um vazio. Beijos que não gostaria de apenas roubar, de ser algo passageiro, algo que não pertence a mim. Quero com humildade uma boca que procure a minha não só por desejo, por sentimento. Então pertencerá verdadeiramente a mim, provarei o melhor dos gostos: a reciprocidade.) Fui bem, estava fácil. E você, como foi?
– Também, mas para você é normal, não é? Vou sair agora, beijos!
– (É normal me sentir dessa forma ? Ou é errado?) Tchau, até mais.
     Seguiam-se os dias como passo lento que por segundos pareciam infinitos, mas passavam. O guri que hoje estava sentado atrás de mim com olhar perdido sabe que um dia encontrará. Não sabe de certo o quê, porém por sentir-se perdido é sinal que ainda lhe resta a estrela do norte. Tal estrela que independente de onde esteja, se você reconhecê-la num céu cheio de outras estrelas, você encontrará seu caminho. Talvez ele tenha esquecido de olhar para cima. E isso ele um dia perceberá sozinho enquanto olha para as raparigas de sorriso largo que passam em sua frente.

sábado, 16 de abril de 2011

Se tu vens


Se tu vens meu bem, venha sem hora marcada. Ou com horas combinadas, 11:11, 18:18, 20:20, 00:00 aquela velha tradição que me faz pensar que tu pensas em mim. Se quiser avisa-me, diga-me devagarzinho, vagarosamente. Se gosta de bolo de cenoura, te faço numa tarde de domingo; se vens a noite te preparo o coração para sentar em um balanço e fitar a pobre lua nos iluminando. Se quiser ficar o dia inteiro, te preparo sorrisos quentinhos que saem direto dum coração cansado de amar errado. Caso goste de minha companhia, entenda que ficar juntos é melhor do que solitários, mas liberdade é primordial, meu bem. Nunca saberei certamente seus horários como um despertador,  só lhe peço que sejas meu diário. Quero te contar do sonho que quis desacreditar após viver ele de olhos fechados; contar sobre a minha vontade desiquilibrada de equilibrar esse mundo, faze-lo melhor como tu me fizeras após me encontrar. E escutar em silêncio, falar com um olhar, quanto me contares teus medos. Podemos ir andando de mãos dadas até minha casa, mesmo que só precise atravessar a rua. Vamos correr também de mãos dadas atrás de nossos sonhos durante os infinitos quilômetros da vida. Mãos dadas são o que importa. Para preencher o vazio que nasceram em nós, para completarmos aquele espaço que quase nos acostumamos a viver. Você que adorarei, será o causador da maioria de minhas prosas, já começando a ser dono desta sem saber; sem saber sobre eu também, sobre que pensei que temos muitas possibilidades se vens, mas não resta uma se nunca chegar.

Aroma sem cor.

Espirrei perfume com cheiro de alegria para que aquela sensação ficasse em minha pele, que por onde eu passasse o cheiro acariciasse as faces tristes, que me abraçasse mesmo não adentrando além de minha pele. Artificial demais, transitório se foi. Do que me adianta se sinto gosto de tristeza no paladar quando é preciso dizer o que o futuro nos espera? Cada parte de mim, até minha visão é cega ao chocar-se com corpos vivos se debatendo na procura de uma razão, como se isso fosse o ouro da vida. Aquele perfume nada me adianta, nada vai te adiantar se teu sangue é igual o meu, te mostrando a fragilidade percorrendo em suas veias.
Pudera eu te dar além de perfumes imitadores de um bem-estar falso. Te dou apenas meus braços cheios de piedade, sangue, muito sangue correndo desse coração desesperado. Você abaixa a cabeça; eu abaixei minha caneta em um papel para (d)escrever a sua volta, sem necessidade de correção, contando os erros que restou, refletindo que ainda temos muitas linhas para percorrer.
E se separar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Escondida entre minha caligrafia


Palavras só confundem, causam incompreensões e muitas vezes não refletem o que realmente a alma quer dizer. Se uso as palavras é porque ando confusa. Minha alma está trêmula, com frio, escondida entre minha caligrafia. Estou mais para dentro de mim mesma do que ontem, amanhã estarei ainda mais. Quero me puxar, dar minha própria mão para eu me levantar, mas ela está ocupada acariciando o meu coração cheio de desesperanças. A Vida não está difícil, está fácil, fácil demais. Amam fácil, odeiam fácil, esquecem fácil, morrem fácil. Não peço por dificuldade, anseio pela verdade. Estou fatigada de dias fáceis com pessoas de sorriso falso; sorrir não é a janela d'uma alma, é um automático nos tempos modernos. Eu sou dessa forma. Uma forma desordenada, atrofiada dentro de si mesma. Sei que dificilmente outra alma vai entender o que a minha sussurra baixinho por onde passa, pelo simples fato de sussurrar. Eu sei disso. É estranho que sempre me existam "porém". Porém, tenho fé que outra alma tão confusa quanto a minha me encontre nessas linhas tortas, de alguém que se prende em palavras contraditoriamente para se libertar.

domingo, 10 de abril de 2011

Você se foi, a canção ficou e algumas lembranças também.



Do que me serve um coração retalhado se não para gravá-lo em algumas palavras? Já se passaram algumas semanas, seu rosto está quase apagado da minha mente, só restam alguns traços e isso já não me faz sorrir como antes. Você se foi, a canção ficou e algumas lembranças também. Lembro-me de uma vez te dizer que eu não podia gostar de ninguém, porque quando isso acontecia a pessoa ia embora. E você foi. Não guardo rancor em meus sentimentos cansados. Guardo só o quentinho de seus braços ao redor de mim, aquilo me confortava. Eu quase nunca pronuncio seu nome, não há mais conversas de váriados assuntos, é como se você nunca tivesse entrado em minha vida. Eu penso por um momento que se eu fingir que você passou, o sentimento vai passar também. Não passa, o momento fica. Preciso andar em frente, apagar os últimos traços de seu rosto da minha memória. É como a música que me lembra você "eu quis te convencer, mas chega de insistir...". Tenho que aceitar que ainda penso em você, que isso vai me render algumas prosas, porém nunca vai me trazer de volta o que passou. Absolutamente nada. O que eu posso esperar é que encontre alguém que não te esqueça como se fosse substituível, porque você não é, não para mim. E independente do dia que ela te encontrar, que te faça rir e seja sua amiga, te espere num meio de uma praça e guarde um pedaço de você no coração. Te guarde bem, mesmo que dure pouco o quase-romance.



 "I miss you, you know ? 
And I've been keeping all the letters that I wrote to you 
in each one a line or two "I'm fine baby, how are you?"
Well I would send them but I know that it's just not enough."

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um século em que apenas existimos

Está tudo muito confuso.
A população do planeta tem uma linguagem universal, mas cada vez mais nos separamos, não serviu para nada além do que intrigas, a fraternidade é desconhecida até pela própria palavra. As almas cada vez mais se distanciam, o físico também só serve para nos separar; olhamos primeiramente para o que as pessoas são, seus corpos, e esquecemos que temos o corpo e somos a alma, não o contrário. A desconfiança é primordial, mesmo que você não concorde com ela. Desconfie até de si mesmo!
Eu não sei de onde eu vim, nem sei dos meus antepassados, todos somos os mesmos com muitas lojas nos fazendo acreditar que devemos continuar iguais (quem foge dessa semelhança é considerado desconexo). Tudo o que sabemos sobre o que ocorre durante nossa existência nos é revelado por uma minoria, não sabemos a veracidade das notícias, mas acreditamos e até ficamos em uma posição nos assuntos, talvez não exista sequer uma posição a se ficar.
Todos pensam iguais, nos doutrinam em grandes telas com outros seres humanos com aparência boa, fala mansa e um conhecimento (tal conhecimento que nos enchem os olhos, tanto que acreditamos cegamente e esquecemos de nos conhecer), nós queremos ser iguais a ele, temos que ser iguais a eles porque são eles os exemplos.
Procuramos um sentindo para toda existência, muitas vezes nos afundamos na procura incansável de outra pessoa para completar tudo o que nos falta, para carregar o nosso próprio desentendimento; nunca a encontraremos, porque estamos todos perdidos em um planeta só, perdidos em um endereço conhecido. Outras pessoas buscam uma razão celestial ou pelo menos uma recompensa depois de tantas questões não resolvidas por aqui, algumas se cegam e esperam a morte para livrar-se de todos os pecados existenciais. E mesmo assim, há quem não acredite em nada, como eu, que não acredita em seus próprios valores que foram comprados, nem em sua ideologia egocêntrica.
Por trás de tudo que seus olhos possam enxergar existem subordinados e comandantes. A hierarquia é uma família extensa, nunca chegaremos o mais perto do topo, sequer sabemos quem está no topo olhando tudo do precipício; aqueles que administram nossas vidas e pedem taxas por estarmos vivos não passam de seres errantes com ambições tenebrosas, que ao final de uma vida são vangloriados por um passado como de qualquer outra existência ( inconsequente, tenebrosa e cheia de aflição).
Apesar de tantas contradições há o que não seja de alguém. Ninguém é dono do Sol, nem dos ventos, nem das chuvas. Podemos sentir sem precisar pagar o sol aquecendo nossos sentimentos, o vento acariciando nossa face e as chuvas lavando a sujeira de nossa alma corrompida. Mas ainda sim, é preciso de um olhar de poeta, força de cavalheiro e visão de pintor para que a vida se torne com mais sentido, com ainda mais dor. Sentimentos de dor porque isso é a prova que sentimos por si só, sozinhos. Sentir não importa o quê nem o porquê, mesmo que parte do nosso cérebro já seja governada por opiniões ditadas.
Eu poderia ditar todas as regras que tenho que seguir para ser aceita; as regras que próprio criei para me aceitar (como escrever esse texto). No entanto, ainda haveria confusão em tudo que me cerca. A única certeza desses tempos é que me dói à maldade de variadas formas, principalmente está em que estou (sobre)vivendo.
Na dor encontrei a minha verdade.

sábado, 2 de abril de 2011

Fragilidade no (meu) tempo

     O tempo tentou ser a sósia de minhas emoções; estava lá nublado quando me encontrei confusa, com nuvens de memórias me fazendo não enchergar a realidade; estava lá chuvendo quando passei uma fração de horas fazendo meu travesseiro de colo e deixando rolar as lágrimas uma atrás da outra; agora está aqui brilhando como um diamante quando meu sorriso sem cor se abriu de alegria.
     Sempre quis dizer que sou uma menina forte apesar de meu corpo mirrado. No entanto, sou frágil como porcelana ao cair no chão, me quebro toda, ou até um simples gesto brusco me parte em infinitos pedaços.Eu passei por um momento difícil, não era o mais difícil do mundo. Mas foi o bastante para eu me esconder debaixo de um móvel velho, esperando que tudo passase logo  enquanto eu me encolhia no chão frio.
    A verdade é que um sopro do vento de um sentindo contrário que eu não espero, já me trás insegurança. Sinto vergonha de ser desse jeito. Afinal, tudo para mim foge das proporções. Seja a alegria que senti ao receber uma flor quase murcha ou a tristeza de ter alguém que eu amo com a saúde evaporando.
    Essa semana ruim com o tempo meteorológico tão ruim quanto, me fez perder várias penas da minha asa. Até eu não conseguir mais voar, fiquei no chão estirada tentando alcançar novamente os céus com pulos tão pequenos como minha esperança. Foi então que apareceu meus amigos, me fazendo uma nova asa tirando algumas penas das suas para refazerem a minha. É, isso se chama amizade, apesar dos contratempos apesar de eu-com-meus-vários-defeitos, apesar de qualquer tempestade.
Muito obrigada.

domingo, 13 de março de 2011

Roteiro de Vida


Cada molécula do meu corpo é composto de poeira estrelar.
Meus olhos brilham ao imaginar o futuro.
Depois se apagam.

Minha voz é baixa, mas quer ser ouvida por alguém,
como uma bela canção que a melodia dança no ar.

Meus pés frágeis seriam capazes de andar pelo mundo inteiro.
Para espalhar uma mensagem de Amor.
No entanto, o mundo parece estar dormindo naquele eterno roteiro.

"Você precisa ter mais dinheiro do que viver.
Um bom carro do que ter uma pessoa que te ame, para sentar-se ali ao seu lado.
Inteligência escolar do que sabedoria sensitiva.
Ser escravo de dogmas do que sua mente voar pelo oceano, livre."

E eu não quero um roteiro em minha vida. Não dessa forma autodestrutiva.
Eu quero escrevê-lo, mesmo que me gastem linhas imensas com minhas palavras desconexas,
ou até mesmo que me falte tudo.

Quero fazer minha própria história,  ninguém precisa ler.
Pouco me importa o que as pessoas vão falar, não nasci em proporções pequenas para voar .

Sou poesia sem fim, sem métrica, sem rima.

domingo, 6 de março de 2011

Let it be

Deixa estar, mãe Maria,
Acredite!
Se precisar de força, busque em mim... Tenho pouca para me reerguer, mas aceito fazer parte da terra para que você possa beijar o céu.
Você é tudo para mim, principalmente a minha parte piegas.
Hoje é Carnaval, minha linda. Eles comemoram uma alegria sem sentido. Eu comemoro a sua existência. Minha existência. Com sentido...
Teu riso, teu abraço, tuas palavras, minha mãe.
Se soubessem que existe alguém nesse mundo com o coração tão doce como o teu, que é capaz de encontrar a felicidade no simples gesto de cuidar das pessoas... Ah! As Guerras perderiam sentido. Os rebeldes do mundo inteiro iam vir te pedir colo. "Cuida de mim, mãe Maria? Andei tão triste em meu caminho..."
Não esqueça de cuidar de você. O doce amarga nessa sociedade...
Eu te amo, tá? Te cuido.

Obs: Você criou um pássaro. Tenho que ir.
Vou voar. 
Te levarei em minhas asas...


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sinceridade

As crianças usam a sinceridade, enquanto os adultos a escondem na própria alma. Escondida ela amarga, envenena, te asfixia. Sou grata de guardar comigo a sinceridade em meu olhar, no entanto não costumo usá-la. A sinceridade ofende. Aprendi desde a primeira vez que minha mãe puxou a minha orelha, quando eu disse que a comida da minha Tia estava ruim. Desde então aprendi a omitir que é parente da mentira.

Essa é a ditadura da raça humana.

É errado você dizer o que verdadeiramente pensa para ajudar alguém. É errado sorrir para um desconhecido. É errado tratar bem alguém que te tratou mal. É errado ser carinhoso depois do primeiro encontro. É errado dizer que há um pedaço de alface no dente de alguma pessoa. É errado compartilhar a sua visão diferente do mundo. Certo é você colocar uma máscara e ser alguém que você não é. Espera, não é apenas isso! Você também deve colocar uma armadura em seu coração, porque é errado sentir.

A maior doença do século não é o câncer, é SENTIR. Nós temos a sensibilidade de memórias e afetos correndo em nossas veias. No entanto, como uma doença nós tentamos aniquilá-las; acreditamos fervorozamente que não existe, que vai passar. E como os sentimentos, a sua vida vai passar despercebida também.

Hoje acordei pensando nessa condição de estar em silêncio. Não concordo, mas essa é a regra do jogo.

É, eu nunca poderei dizer que amei o modo que você sorri....

domingo, 23 de janeiro de 2011

Uma frágil alma poeta

    Não me aprisione na limitação de ser uma palavra, um nome, uma vida. Carrego todas as almas de poetas que já se foram, e sou expulsa por corpos vivos cheios de aflições querendo ser ouvidos em estúpidos programas de tv. Contrariando aquele estúpido clichê de "não sei o que sou, mas sei o que não quero me tornar" eu não imagino, não faço idéia, eu posso me transformar em tudo e em um piscar de olhos me deteorizar, ou viver mais de 24 horas sendo. Todos falam em Ser. Eu devo Ser nessa vida, é um contrato que ninguém assinou mas pagam com uma vida de anulações. Ser. Ser que pode estar em uma mesma frase com Sentir. Se o que eu sou não é o que sinto, então tenho orgulho de nada ser. 
    Minha profissão nessa vida é sentir com intensidade. Então um estúpido que rega sonhos com saliva me diz: Apenas é essa sua profissão? Aliás, QUEM É VOCÊ? E eu choro sem lágrimas, porque poderia morrer de desidratação de minhas esperanças ao responder essa pergunta. No fundo sinto inveja de estúpidos como esses. A vida passa mais rápido do que seu relógio de parede, do que sua faculdade mental pode se lembrar.Todos fogem de sentir. As farmácias são os lugares mais lucrativo para esses senhores de paletó e as damas da passarela. 
    Por um momento procuro um outro corpo humano para abrigar e compartilhar o que sinto, é demais para uma menina frágil. Procuro em cada contorno de rosto, beijos desmerecidos, amizades cheirando a terra podre. E se eu nunca encontrar ? No entanto eu encontrei. Não ajudou. Eu não queria compartilhar, quase como uma ladra egoísta de sensações, eu queria roubar toda a dor de quem encontrei e levá-las comigo. Então, descobri o que significava amor. Aos poucos fui descobrindo o peso de cada palavra que alguns temem em dizer e outros repetem com o fervor... 
   Livra-me de minhas atormentações da sociedade com corpos vazios. Desculpa para você que está lendo, não sou capaz de continuar. Meu raciocínio começa a voar em todos os detalhes que ninguém prestou atenção. Percebo que sou uma louca que quando não está escrevendo sobre um eu-lírico, não encontra ligações em suas frases, ao menos equilíbrio. Vem, me diz. Me responde minhas perguntas, por favor. Faz parte da vida todos te deixarem ? É normal tirar sangue de si mesmo quando quer que sua dor vá embora pelo externo ? Sou capaz de ser ? Minha mão treme escrevendo nessas linhas sobre uma garota cheia de confusões e um jardim de sensações. POR QUE DIABOS NINGUÉM ME ENXERGA ? 
    Olha que engraçado, eu começo com as perguntas que não se aprendem e nem vão ser respondidas nas cadeiras de uma escola, que só ensinam sobre a hipocrisia de seguir exemplos. Eu quero voar. Como um pássaro, sua liberdade em suas asas. Eu sou um pássaro, com minha liberdade em minhas mãos. Agora eu vou fazer o final dessa prosa sem rima, sem gosto, sem alma. Diz que sou e me deixa morrer sozinha. Sozinha como sempre fui nessa alucinação. Eu quero e não quero ser.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Perdida.

Eu perdi pessoas, sonhos, estrelas cadentes e minhas palavras. Quando você perde algo tem o costume de se perguntar: Onde é que eu o vi pela última vez? Bem, eu tenho vivido muito tempo assombrada por tudo que eu perdi e, pior ainda, pelo o que eu não quero perder.
Gostaria de ouvir uma flor dizer que uma essência doce é um convite para as borboletas e quando elas te alcançam você se torna verdadeiramente liberto, porque foi capaz de compartilhar a sua melhor parte para a pequena parte dela, suas 24 horas de vida. No entanto, as flores não são capazes de falar, a minha essência é amarga e ainda sim levaram uma grande parte de mim.
Estou presa. Tudo isso me consome. Tudo. Aquele sorriso puro que vi na rua levou a parte doce de minha vida; o sonho que abandonei por oferta da desilusão e as memórias que minha falha humana não é capaz nem de apagar e nem de voltar me entorpecem de confusões. A pior das minhas perdas foram as minhas palavras.
E me perguntei: Onde é que eu a vi pela última vez? Dentro de mim, dentro de mim.
No entanto elas não saem, se escondem, se instalam e permanecem se espalhando aqui. Eu tento expulsá-las, não dá. Será que sou eu que estou presa nelas? Ou será que elas que estão presas dentro de mim? A minha alma diz que somos um só, um só.
Então entendo que a minha maior perda foi eu ter me espalhado em pedaços e soprado ao vento, esperando que alguém encontrasse um pedaço, para buscar os outros e enfim juntá-los.
Só eu poderia me encontrar porque sei exatamente onde me perdi: nas palavras.