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Eu sou um pouco de solidão, um pouco de negligência, um punhado de reclamações.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O toque final



     Dia de tempo abafado, contas atrasadas e o telefone sem tocar. Ela mudava de canal impacientemente enquanto sentia o controle remoto da televisão deslizar de sua mão suada. A maioria do conteúdo: silicone, amor, beleza. O que podia ser pior? Ou melhor, o que poderia deixar a situação menos insuportável? Decidiu desligar a tv. Laura inundou-se em pensamentos supérfluos em seu sofá – desde do próximo capítulo de sua novela até a nova massa química do comercial de fastfood. 


    Limpar a casa? Não, não. Isso soa escravidão, a poeira o vento vai levar. Ela estava errada. O tempo estava abafado, sem vento, sem ninguém em casa. Seu corpo estirado derretia-se no couro do sofá, e é nesses momentos em que o subconsciente trabalha. Já não se permitia pensar em suas responsabilidades. O calor abria-lhe os poros, estava aberta para novas sensações enquanto pensava sobre si mesma, o único assunto que a não espantava. 


    O mais sensato a se fazer quando está sozinho, é fazer o que todos fazem quando estão sozinhos. “Mas e se isso for errado? Alguém pode chegar a casa e me encontrar desprevenida.” Bom ninguém a flagrou, pelo menos, não a pegaram enquanto se despia com a autodesculpa que o principal motivo era o calor. O extinto é delicado, e também grosseiro. Estava se desembrulhando como um doce possivelmente esfarelado, esse ato detinha toda a delicadeza que o momento desejava e toda a fúria que a pressa leva em si.


   Muitos filósofos questionaram e exaltaram a beleza do encontro durante séculos. Os músicos românticos exaltavam que o encontro acontecia a partir do momento em que se acha o partido ideal. Nesse exato segundo centenas de pessoas em diferentes continentes estão proclamando a meta da busca do encontro em suas vidas. 


   Então, como um relâmpago que perfura o céu em um tempo chuvoso, Laura encontrava-se dentro de si mesma. Sem aviso o tempo mudou bruscamente. Aos poucos o tempo tornou-se úmido. Muitos trovões. Fortes ventanias que se tornavam mais audíveis fora de seu lábio. Tão úmido que a chuva não demorou a alagar-lhe toda sua moradia. A não poetiza estava mais dentro de si mesma que qualquer experiência poética em um final do dia podia lhe proporcionar.