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sexta-feira, 6 de maio de 2011

A beleza mórbida de Angelina

A moça com os lábios carnudos irreconhecíveis era a desgraça da mãe. Quando pequena gostaria de tornar-se uma mulher independente como quem acolhera em 9 meses na barriga; do pai pouco sabia, mas era vivo. A beleza de Angelina evoluía ao passar dos anos, de jovem com olhar ingênuo transformou-se em atraentes olhos enigmáticos – ninguém sabia o que passava em seu coração, talvez nem a própria menina entendesse o motivo que lhe causava dor.
– Por que está chorando, minha filha ?
– Estou com dor de cabeça e vertigem.
– Isso nunca lhe fez chorar, conte para sua mãe a verdade.
– Estou falando a verdade. Acho que vou me deitar.
  E deitava-se, cobria-se, respirava incerteza dos reais motivos da vida apertar-lhe o coração com força de um leão feroz. A própria nunca mentiu para si mesma que o fato de ter a beleza em suas mãos e pelo resto de seu corpo sequer a fazia melhor para alguém – nem para si mesma.
Ah, quem a olhasse... Capaz de tornar-se pedra ao admirar-lhe por uma fração de minutos. Seu corpo todo eram curvas desiquilibradas, quadris, busto, lábio; curvas que te faziam perder o controle dos cincos sentidos.  A jovem que era rebelde com a sua falta de onisciência da vida começou a perceber que podia ser a pior ferramenta que poderia usar. 
 Colecionava facas, não passava despercebida por nenhuma nova quando encontrava em uma loja ou até mesmo em cozinha de família. Também usava as próprias facas. Cortava-se inteira, e mais do que curvas seu corpo era repleto por cicatrizes que mesma fizera pela arte de existir. Sabia lançar facas em quem a pedisse, os grandes olhos verdes em quem a ameaçasse.
– Esqueça que você tem mãe – tremia como um terremoto capaz de destruir o mundo. Seu mundo estava completamente revirado naquele momento.
Pobre, Anjo. Rompeu-se o laço com quem abrigara no seu coração por muitos anos. Dizem que foi encontrada na cama com o namorado da mãe. Outros dizem que a mãe que vivia bêbeda desde que a moça fora pequena. Nunca mais falou com a mãe depois do ocorrido. Nem mesmo antes de sua morte. Mais do que beleza, tinha cicatrizes profundas que carregava em sua vida. E que não apareciam em um simples flash de foto.

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