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Eu sou um pouco de solidão, um pouco de negligência, um punhado de reclamações.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Guri a procura d'um amor

     O guri estava sentado no banco de madeira, ao seu lado sua mochila com alguns cadernos, do outro a vontade de encontrar alguém. Aquele lugar era estratégico, todas as raparigas com seus corpos florescendo da adolescência para a vida adulta desfilavam por lá; baixas, altas, louras, morenas, de fala mansa, riso histérico. Às vezes seu olhar encontrava o de seus antigos amores, uns que foram esquecidos como bijuteria em gaveta, outros que ainda ardiam feito queimadura – o que devia ser mais difícil? Esperar pelo desconhecido ou por alguma memória ? Vivia por ali sentado, veze em quando conversando para espantar a solidão, outras vezes ouvindo músicas que se encaixavam perfeitamente como trilha sonora.
     Sorrir nunca fora tão difícil para o guri, já muito desencantado com as falsas promessas e desencontros. A alegria não era difícil de se ter em seu dia-a-dia, muito das pessoas o queriam bem de saúde, era rodeado por amigos, escutava-se piadas e risos ao passar ao seu lado. No entanto, com o coração ralado o que poderia fazer ? Eram momentos de alegria em companhia e inumeráveis de tristeza sem outro corpo para acolher seus sentimentos pisoteados, e outros ainda guardados – talvez nunca o achem, é muito bem guardado. Apesar das contradições da rotina ainda sorria, era perfumado, bem cuidado, moço bonito. Era preciso além de olhar, senti-lo. Sentir que nada valia a aparência boa, se seu coração estava apodrecido de procuras desgastantes. Quase ninguém sabia disso, ele sabia.
     Quando o perguntavam como estava não sabia o que deveria responder. Uma simples pergunta o fazia relembrar o que se passava por dentro.
– Tudo bem, guri?
– (Ontem a noite só me restava estudar para os exames escolares, mas minha própria mente me perturbava. A vida não é um cálculo matemático, nem um simples substantivo, muito menos o amor. Eu que pensei por ingenuidade que amar era brisa da manhã que acaricia a face, percebi que está mais próxima de navalha adentrando nos músculos da pele. Pensei a noite toda sobre o porquê me sinto incompleto. É falta. Falta alguma coisa. Mais o quê? Hei de não encontrar. Sinto tristeza, aquela que nunca entendi ao escutar meus amigos pronunciarem.) Estou bem e você?
– Claro! Você está sempre bem, com sorriso no rosto. Como foi na prova?
– (No momento não sou capaz de provar da alegria sincera, só de beijos que roubo para suprir um vazio. Beijos que não gostaria de apenas roubar, de ser algo passageiro, algo que não pertence a mim. Quero com humildade uma boca que procure a minha não só por desejo, por sentimento. Então pertencerá verdadeiramente a mim, provarei o melhor dos gostos: a reciprocidade.) Fui bem, estava fácil. E você, como foi?
– Também, mas para você é normal, não é? Vou sair agora, beijos!
– (É normal me sentir dessa forma ? Ou é errado?) Tchau, até mais.
     Seguiam-se os dias como passo lento que por segundos pareciam infinitos, mas passavam. O guri que hoje estava sentado atrás de mim com olhar perdido sabe que um dia encontrará. Não sabe de certo o quê, porém por sentir-se perdido é sinal que ainda lhe resta a estrela do norte. Tal estrela que independente de onde esteja, se você reconhecê-la num céu cheio de outras estrelas, você encontrará seu caminho. Talvez ele tenha esquecido de olhar para cima. E isso ele um dia perceberá sozinho enquanto olha para as raparigas de sorriso largo que passam em sua frente.

Um comentário:

  1. "Quando o perguntavam como estava não sabia o que deveria responder. Uma simples pergunta o fazia relembrar o que se passava por dentro. "

    Esse texto me faz relembrar o que se passa por dentro... dentro da minha cabeça, do meu coração, dos meus sentimentos... Da minha alma...

    Me faz recordar alguns anos atrás, quando sentava - me em um banco, fingindo estar bem, soltando sorrisos ao redor (sinceros porém forçados), ouvindo músicas e pensando na vida... (talvez na vida que passava humanizada a minha frente, vez ou outra, soltando sorrisos em minha direção... será a vida?)

    Pois bem, seus textos são importantes. São incríveis, são puro sentimento e poesia...

    São valiosos... tão valiosos quanto você, porque eu sei que eles são pedacinhos de ti.

    Você é uma pedra preciosa...

    :)

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